sexta-feira, 21 de março de 2014

Ritxoko: retratos cerâmicos da vida Iny


Pelas mãos habilidosas de nossas mulheres ceramistas, a vida do povo Iny vem sendo retratada em argila, cada vez mais com maior maestria e arte. São figuras do nosso mundo Iny, como os Aruanãs, os jyrè, meninos em iniciação, as ijadokomã, meninas-moças, e os lutadores da luta tradicional ijesu. São também personagens de mitos e narrativas tradicionais, como Koboi, o barrigudo, ancestral dos Iny que habitava no fundo das águas e não veio para o mundo da superfície, ou Deridu sè, mãe do chefe Deridu, que criou uma onça como filho, ou a mulher que namorou o jacaré. Cenas do nosso cotidiano também são retratadas nas peças cerâmicas, tais como homens voltando da caça em suas canoas, a marcação dos círculos faciais komaryra, cenas de funerais, entre outros temas. As ceramistas Iny apresentam  seus trabalhos, verdadeiros retratos tridimensionais cerâmicos que contam muitas histórias e revelam o nosso apreço pelas tradições da vida Iny.



A distinção entre as representações de uma figura feminina e uma figura masculina nos ritxoko é definida por padrões gráficos de pintura corporal e adereços específicos.  Contudo, o traço formal mais recorrente e que melhor define o gênero das ritxoko é a presença de uma “protuberância abdominal”, ou seja, uma “barriguinha”, nas figuras femininas. Por oposição, a ausência dessa barriguinha indica um ritxoko do gênero masculino.



Ritxoko: Iny fotoreny

Hawyy debò-ribi relemyre suritxoo iribita itxerenymy reamyhyre. Iribita riwynymyhyrenyre inywysemy: ijesudu, jyrè, ijadoma, weryrybò, ijasò, oboi, deridu, hawò inymyna, hawyy orera wyna, hawyy omarury riwynymyhyre, inyrurumyhyre iribi sõemy aona aona riwynymyhyrenyre. Iny ryty widãdureny widi taõmy sydana reny rytiòsinyrenykre, ritxoo inywysemy riwinymyrenyre iny ijyyreny.


Ritxoko: ceramic portraits of Iny life


Through the skillful hands of our ceramist women the life of the Iny people is portrayed in clay, with ever increasing mastery and art. They are common figures of our world, such as the Aruanãs, the jyrè boys in initiation, the ijakodomã, young women, or the fighters of the traditional fight ijesu. They are also characters and representations of our myths and stories, like the Kàboi, the ancestral potbelly of the Iny that lived in the depths of the waters and couldn't come up to the surface world; or Deridu sè, mother of Deridu, who raised a jaguar cub as her own son; or the woman who had a love affair with a crocodile. Scenes of our daily life, such as men returning from the hunt in their canoes, the marking of the facial tattoo komaryra, funeral scenes, among many others, are also portrayed. The Iny artisans present their work in the form of three-dimensional ceramic portraits that tell many stories and demonstrate our esteem for the traditions of Iny life.



The distinction between the representations of a female figure and a male figure in the ritxoko is defined by graphic patterns in body paint, and by specific adornments. However, the most recurring attribute and the one that best defines the ritxoko’s gender is the presence of an “abdominal protuberance”, that is, a “belly”, in the female figures. By contrast, the absence of the belly indicates a male ritxoko.

Texto de Chang Whan
Tradução para o inglês de Mariana Maia 
Tradução para o Karajá de Juanahu Karajá

Edição de vídeo: Felipe Martins 
Roteiro e conteúdo: Cristiane Oliveira






quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O povo Karajá pede ajuda

A irmã Narubia Weheria abriu um abaixo assinado online para atrair visibilidade ao problema do suicídio de adolescentes e jovens Karajá que vem acometendo as aldeias da etnia desde 2010.

A equipe Karajá acompanhou de perto o sofrimento das famílias dos jovens que tiraram suas próprias vidas e não passamos incólume diante desses fatos.

Deixamos aqui o belo texto da Narubia Werreria e também um pedido de ajuda a todos aqueles que simpatizam com os Karajá, com a causa indígena e com a vida humana: vamos pensar em ações que ajudem a resgatar o orgulho e a vontade de viver desses jovens. Toda ajuda é válida e você pode começar assinando a petição criada pela Narubia.

Nossa profunda gratidão àqueles que reservam um pouco do seu tempo para refletir sobre os problemas do próximo (que no final das contas são também nossos).

"Pensar sobre o suicídio que vem acontecendo em meio ao nosso povo me deixa paralisada, falar e não encontrar as lágrimas no rosto, parece impossível. Não sei se saberei descrever nossa dor, nem o quanto esses últimos anos estão sendo aterradores para nós. Queria manchar essa tela de sangue, talvez o nosso sangue clame mais por socorro que minhas palavras!

Só neste ano foram dois jovens que se suicidaram. Sábado, dia 01 de fevereiro de 2014, perdemos outra vida. Aceitar a morte não é facil, aceitar a morte de jovens com menos de 25 anos, que se matam um após o outro é algo quase inaceitável.

Meu povo Iny (Karajá e Javaé) da Ilha do Bananal - TO, tem uma população de 6 mil pessoas, somos um povo alegre, somos o povo do fundo da água e a nossa morada é na Ilha, a maior Ilha fluvial do mundo. Já fomos fortes e com muito orgulho de sermos quem somos, hoje resta o orgulho do passado. Hoje nosso olhar por mais alegre que é e tenha sido, transparece a tristeza e a nossa dor parece não ter fim. 

Nosso visão do futuro é desesperadora e apesar dos inúmeros Seminários e encontros feitos, das pesquisas e pedidos de ajuda que expomos, os órgãos competentes nada fizeram de REAL E EFICAZ para sarar nosso povo, estamos cansados de reunião que não produz, cansados de gastar tanto sol, sem nada iluminar.

Nós não temos mais segurança, o acoolismo, drogas e protituição invadiram nossas aldeias, o atendimento básico a saúde e educação são precários, a assistência em saúde mental não consegue cuidar dos atuais transtornos de nossos jovens e nós não sabemos lidar com esses problemas que vieram com a sociedade não nativa (não indígena).

Tenho esperança que nosso povo venha superar esses traumas e que nossos jovens voltem a sonhar e não terem pensamentos de morte e autodestruição, precisamos de uma intervenção urgente, com uma equipe multidisciplinar e que venham psicólogos e psiquiatras que realmente queiram nos tratar e nos ver saúdaveis. 

Que nossa alegria de viver volte e que quando eu tiver velhinha, olhe para nossas crianças com esperança que o nosso povo não só sobreviverá, como sobrevive muitos outros povos nativos. Queremos viver. Não queremos apenas resistir, queremos existir com dignidade"
                       

                                     Narubia Weherria

Link para petição:  https://secure.avaaz.org/po/petition/Preseidente_do_Brasil_Dilma_Rousseff_Salvem_os_jovens_Iny_Karaja_e_Javae_do_suicidio/